domingo, 21 de abril de 2019

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“É possível parar de respirar e continuar vivendo?” dispara cartunista do dialeto piauiês

Reportagem publicada em 15 de abril de 2019 em Dicas Jornalismohttps://labdicasjornalismo.com/noticia/306/-e-possivel-parar-de-respirar-e-continuar-vivendo-dispara-cartunista-do-dialeto-piauies?fbclid=IwAR0GFfZGK0hk2qb7Y5GHqX8f1ygrz8rcvm4dW4CYpuS93xkMR4O5FgP4dRo

Para preservar o modo de expressão dos piauienses, o dialeto chamado 
piauiês, e torná-lo conhecido através do humor e da arte visual, o artista Joaquim Monteiro já conseguiu reunir, por meio de dois livros publicados, diversos retratos cotidianos. Os materiais trazem o uso de expressões como mermã (abreviação de minha irmã, forma de chamar alguém em uma conversa), nam (jeito piauiense de falar não, especialmente quando quer enfatizar), armaria (ave Maria), mangar (rir de alguém), bulir (aborrecer), dentre tantas outras. Aos 49 anos, o professor, cartunista e designer gráfico também expressa nos desenhos uma visão de mundo para além do seu quintal, tocando em questões sociais e políticas desde os anos de 1990.

“Só comecei a fazer trabalhos profissionalmente após 1995, quando já havia iniciado o curso de Artes na Federal e comecei a ver meus desenhos com outros olhos. Até então era só ‘uma diversão sem futuro’. Em 1996, na primeira participação em um concurso de caricaturas (o Salão Internacional de Humor do Piauí) já emplaquei um desenho entre os 10 melhores. Mesmo assim, só comecei a priorizar o desenho de humor 10 anos depois, em 2006, quando resolvi usar as redes sociais para divulgar meus trabalhos. Em 2011 lancei meu primeiro livro de cartuns (Dê gaitadas a folote com o Piauiês) e eles viraram memes nas redes sociais”, conta Joaquim sobre os trabalhos artísticos.

Graduado em Educação Artística com habilitação em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) e especialista em História da Arte e Arquitetura, Joaquim prefere usar o título de arte-educador. Ao longo da trajetória ele já expôs trabalhos em eventos como: XIV Salão Internacional de Humor do Piauí em Teresina-PI (1996); Mitos e Lendas – República dos Quadrinhos em Natal-RN (2010); Traços Pelos Direitos Humanos do Instituto Henfil e ABI-RJ (2013); Salão de Humor da Unimed em Teresina (2015); Exposição sobre a Jovem Guarda no projeto Artes de Março do Teresina Shopping (2018). Dentre as modalidades de desenho ele destaca: “gosto muito do desenho realista, retratos realistas em especial, mas minha especialidade é mesmo o desenho de humor - o cartum, a charge e a caricatura”.

Como referências artísticas ele preserva grandes nomes a exemplo de Michelangelo e Leonardo da Vinci, mas segue uma vertente expressionista e classifica: “Van Gogh é Deus!”. Nas peças de humor há espaço para outros como “o Angeli, o Glauco e a Laerte. Do Angeli, em especial”.

Na função de professor, ele acredita em uma arte “inconformada, transformadora (em sua essência) e revolucionária, não só do ponto de vista técnico-formal, mas do ponto de vista do conteúdo”. O artista pessoalmente aparenta comportamento introspectivo, meio tímido, e fala que gosta de deixar o ambiente leve e quase informal nas aulas que leciona nas redes estadual e municipal de ensino público em Teresina. Para ele, uma das missões como arte-educador é fazer valer o que chama de “função desalienadora da arte. A arte é irrequieta, a arte quando se acomoda vira o principal instrumento do establishment*. Mas quando ela segue sua natureza, ela sempre será contestadora, revoltada e revolucionária”.

Essa visão pode ser considerada polêmica. Nos trabalhos de Joaquim é possível observar a acidez nas críticas que faz e um posicionamento político abertamente de esquerda. “A charge, seguindo a tradição de Daumier, é uma carga de críticas, de humor mordaz, fino e certeiro. Mas existem chargistas que utilizam mais ou menos humor. Latuff, por exemplo, tem como filosofia não usar o humor, seu trabalho é mais jornalístico, mais descritivo de uma realidade. Já outros usam um humor mais refinado, como a cartunista Laerte. Eu sou do time dos que gostam do humor escrachado, já citei que sou fã do Angeli. Um humor meio anarquista. Meus cartuns e minhas charges são bem humoradas e são carregadas de uma critica da realidade cheia de sarcasmo. Esse tipo de humor incomoda. O mestre Henfil nos deixou uma lição, que o verdadeiro humor tem de incomodar os que estão no poder, e não os oprimidos. Portanto, carrego a pena contra os que estão bem, no conforto de seus privilégios e do poder”, conta.

Questionado sobre retaliações, ele diz que nunca ocorreu diretamente. “Já ouvi relatos de pessoas que queriam me processar por essa ou aquela charge postada ou que estivesse circulando por ai. Mas até agora nada me chegou em mãos”.

Piauiês e outros trabalhosOs livros “Dê gaitadas a folote com o piauiês” e “Dê gaitadas a folote com o piauiês II – A peleja” foram lançados, respectivamente, em 2011 e 2015. “O primeiro foi resultado de um processo, digamos, natural. Eu gostava de fazer cartuns carregados de expressões regionais que eu ouvia quando criança, muitas delas já tinham caído até no esquecimento. Depois conheci ‘A Grande Enciclopédia do Piauiês’, do jornalista Paulo José Cunha, com ilustrações do cartunista Jota A, e então passei a mergulhar nessa obra e pinçar muitas expressões que foram utilizadas nos meus cartuns”, explica o cartunista que coleciona leitores dentro e fora do país em lugares como Argentina, Portugal, Espanha e Itália.

“Já o segundo veio como consequência do primeiro, melhor elaborado e mais maduro, com melhor acabamento, tendo o cuidado de não colocar cartuns que reforçassem opressões, cuidado que não tive no primeiro”, explica Joaquim que adianta estar trabalhando na produção de um terceiro projeto. “A ideia inicial é uma coletânea com alguns escolhidos dos dois primeiros e alguns inéditos. Vamos ver se dá certo”.

O jornalista Inácio Pinheiro produziu em 2016, junto com um grupo de estudantes universitários, atualmente profissionais, o documentário “Piauiês nosso de cada dia” para tratar das expressões divertidas e cotidianas. Durante a produção a equipe lembrou o trabalho de Joaquim e os dois livros sobre o assunto. A obra então foi objeto de estudo do grupo e baseou esquetes do documentário que contou com entrevista do autor.

“O que é mais legal do trabalho do Joaquim Monteiro é que a obra dele é acessível. Não se trata de um texto denso, de uma leitura complexa. São charges, gravuras, caricaturas com histórias e expressões muito engraçadas. Tanto as pessoas do Piauí como as de fora entendem e se divertem. São poucos os trabalhos como o dele. É muito importante para valorização da nossa história, da nossa cultura, do nosso jeito de ser”, opina o jornalista Inácio Pinheiro

As expressões correspondem ao dia a dia de pessoas que residem na capital, no interior e também aqueles que moram fora do estado, mas mantêm a tradição. “Não existe (ou não deveria existir) preconceito, porque todo mundo se entende e se enxerga nesse modo de falar. São expressões típicas daqui que nos unem e nos fazem únicos. É a nossa identidade”, lembra Inácio.

Esse reconhecimento é considerado por Joaquim uma das suas maiores emoções como artista. “A grande satisfação do artista é ver a reação do público ante sua obra. Para mim, a maior surpresa mesmo foi ver a repercussão dos cartuns sobre piauiês e dos meus dois livros”. Ele utiliza as redes sociais Facebook e Instagram para divulgar os trabalhos e fala das dificuldades no mercado local para quem deseja viver de arte. “O artista piauiense para viver de arte tem que olhar para fora, fazer o máximo para que sua arte chegue aos grandes centros, e lá disputar corpo a corpo, com meio mundo de gente. Mas é fundamental participar de exposições fora do estado”.

Joaquim Monteiro declara um amadurecimento na sua arte e fala sobre o conceito de politicamente correto. “Acho que nos últimos 10 anos minha arte passou por um processo de amadurecimento e de responsabilidade social. Hoje sou mais consciente, mais maduro. Minha arte tem um caráter de classe. Sou mais politizado e atento com as demandas das minorias oprimidas. Não chamo de “politicamente correto” porque não gosto de me apossar de expressões cunhadas pelos inimigos para depreciar, digo uma arte classista e engajada politicamente contra as opressões”.

O piauiense procura escrever, desenhar e viver a arte em todos os âmbitos da vida e sobre a possibilidade de parar, Joaquim é rápido em dizer: “É possível parar de respirar e continuar vivendo? Ou de bombear o sangue e permanecer de pé?”. As respostas através de questionamentos já indicam que essa peleja (em piauiês podemos considerar como trabalho, tarefa árdua) deve continuar.

sábado, 20 de abril de 2019

Entrecultura entrevista o cartunista e arte-educador Joaquim Monteiro

Os traços do artista visual Joaquim Monteiro, sempre carregados de humor e crítica social, o consolidaram ainda na década de 90, quando fez uma caricatura de Oscar Niemeyer, que ficou entre as dez melhores do XIV Salão Internacional de Humor do Piauí.

Entrevista concedida a jornalista Thais Guimarães de Entrecultura em 11/08/2018
http://entrecultura.com.br/2018/08/11/entrecultura-entrevista-o-cartunista-e-arte-educador-joaquim-monteiro/



Apesar de ser reconhecidamente um cartunista, Joaquim, formado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), prefere se intitular como arte-educador. “Sou arte-educador por formação e profissão, mas, também faço trabalhos profissionais de desenho de humor”.
Joaquim Monteiro é o que se chama de “artivista”. Militante da organização política Ruptura Socialista e diretor do Sindicato dos Servidores Municipais (Sindserm) de Teresina, tem na sua arte uma ferramenta de potente manifestação. E foi sobre sobre, arte, educação e política que o arte-educador conversou com o Entrecultura. Confere!
Entrecultura: Como você iniciou nas artes visuais?
J.M: Joaquim Monteiro: Bom, eu praticamente desenho desde bem pequeno, é obvio que todos, de um modo ou de outro, têm esse processo com um desenho nos primeiros anos de vida. Mas, minha relação com o desenho sempre foi mais profunda. Sempre fui muito introspectivo e o desenho era uma forma de interagir e de me sobressair e me autoafirmar no meio de meus amigos. Mas, só comecei a ver a arte como uma profissão já bem grandinho, no curso de Educação Artística da UFPI. Foi lá que comecei a levar realmente a sério a arte, a vê-la como um campo de conhecimento e expressão da inteligência humana. Foi nesse período, meados da década de 90, que comecei inclusive a fazer trabalhos profissionais de cartuns e caricatura. Um dos primeiros trabalhos que fiz nesta época foi um cartaz para uma peça do grupo de Teatro da UFPI, de autoria do teatrólogo Adalmir Miranda. Outro trabalho que teve reconhecimento foi uma caricatura que fiz do arquiteto Oscar Niemeyer, que ficou entre as dez melhores no XIV Salão Internacional de Humor do Piauí, em 1996.
Entrecultura: Você se identifica como cartunista. Se dedica a outras modalidades, como charge, caricatura e tirinha?
J.M: Sou arte-educador por formação e profissão, mas, também faço trabalhos profissionais de desenho de humor. As modalidades do desenho de humor nas quais milito são o cartum (piadas desenhadas), a charge (cartuns com criticas sociais e políticas) e a caricatura (retratos expressionistas engraçados).
Entrecultura: Poderia citar algumas referências artísticas para seu trabalho?
J.M: Acredito que a referência máxima de todos os cartunistas é o francês Daumier, o pai do caricatura moderna. Mas, a referência mais próxima que tenho é do cartunista paulistano Angeli. Sou da geração que cresceu vendo e admirando os personagens Bob Cuspe, Rê Bordosa, Os Skrotinhos, e tal… A revista Chiclete com Banana era como uma bíblia. Herdei muito do desenho sujo e do humor escrachado do Angeli, através dele, conheci o desenho hiper-sujo de Robert Crumb.
Entrecultura: Como professor, você leva essa arte que produz aos alunos? Como é a recepção?
J.M: Sim, levo. E também tenho procurado ajudar professores/as de outras áreas a usar da linguagem do cartum como recurso em sala de aula. A receptividade é ótima, primeiro, porque é uma linguagem mais acessível, mas lúdica e bem humorada, segundo, porque não tem a rigidez do desenho clássico e pode até ser apreendido com mais facilidade, se a pessoa se dedicar um pouco a descoberta da técnica.
Entrecultura: Você lançou os livros “Piauiês” I e II. Como foi o processo de criação dessas duas obras? O que lhe inspirou a abordar nosso “dialeto”?
J.M: Lancei o meu primeiro livro de cartuns, o “Dê Gaitadas a Folote com o Piauiês”, em 2011. E o segundo, “Dê Gaitadas a Folote com o Piauiês II – A Peleja!”, em 2015. O primeiro foi resultado de um processo, digamos, natural. Eu gostava de fazer cartuns carregados de expressões regionais que eu ouvia quando criança, muitas delas já tinham caído até no esquecimento. Depois conheci “A Grande Enciclopédia do Piauiês”, do jornalista Paulo José Cunha, com ilustrações do cartunista Jota A, daí, passei a mergulhar nessa obra e pinçar muitas expressões que foram utilizadas nos meus cartuns. Então, surgiu a ideia de se fazer um livro juntando tudo isso, coisa que só realizei em 2011. O livro teve boa aceitação. Sei de notícias dele em varias partes do país e até fora, na Argentina, Portugal, Espanha e Itália. O segundo veio como consequência do primeiro, já melhor elaborado e mais maduro e com melhor acabamento, tendo o cuidado de não colocar cartuns que reforçassem opressões, cuidado que não tive no primeiro. O terceiro já está em projeto, a ideia inicial é uma coletânea com alguns escolhidos dos dois primeiros e alguns inéditos. Vamos ver se dá certo.
Entrecultura: Suas produções, quando não trazem o tom humorístico, fazem críticas sociais. Para você, a arte seria hoje a ferramenta mais potente de manifestação frente a atual conjuntura?

J.M: Trotsky, Breton e Rivera, no Manifesto por uma Arte Revolucionária Independente, afirmaram que “A arte verdadeira, a que não se contenta com variações sobre modelos prontos, mas se esforça por dar uma expressão às necessidades interiores do homem e da humanidade de hoje, tem que ser revolucionária, tem que aspirar a uma reconstrução completa e radical da sociedade.” Portanto, quem sou eu para dizer o contrário, a arte é um dos principais instrumentos de alienação utilizados pela burguesia. Mas, o mesmo Trotsky diz que ela, na mão do artista revolucionário, é um poderoso instrumento de desalienação.
A charge, seguindo a tradição de Daumier, é uma carga de críticas, de humor mordaz, fino e certeiro. Mas, existem chargistas que utilizam mais ou menos humor. Latuff, por exemplo, tem como filosofia não usar o humor, seu trabalho é mais jornalístico, mais descritivo de uma realidade. Já outros, usam um humor mais refinado, como a cartunista Laerte. Eu sou do time dos que gostam do humor escrachado, já citei que sou fã do Angeli. Um humor meio anarquista, o manifesto do Fiari diz que o artista deve ter liberdade total, “quase anarquista”, imagine o humorista. Meus cartuns e minhas charges são bem humoradas e são bem carregadas de uma criticidade da realidade cheia de sarcasmo. Esse tipo de humor incomoda. O mestre Henfil nos deixou uma lição, o verdadeiro humor tem que incomodar os que estão no poder, e não os oprimidos. Portanto, carrego a pena contra os que estão bem, no conforto de seus privilégios e do poder.